19/9/2008 - Brasil - O Estado de S. Paulo
A parcela da população que se declarou preta ou parda superou o total de autodeclarados brancos no País em 2007, revela o IBGE. Doutor em História e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Manolo Florentino avalia que o resultado está relacionado a recentes políticas públicas, como a criação de cotas para negros em universidades.
"Pode ter outros fatores, mas é óbvio que essas políticas têm levado a um aumento das declarações de negros, sejam elas fictícias ou não." Ele também cita o acesso à terra por declarados remanescentes de quilombos. Para Manolo, a cor, no Brasil, continua sendo questão de posição social. "Não sei se isso é bom ou ruim, pois as identidades têm grande parcela de ficção, estão voltadas para uma demanda de inclusão social", diz. "Antes, sempre ocorreu tendência de embranquecimento. Muitas pessoas estão buscando um meio de ascender socialmente." Mas o professor também aponta como fator o movimento de afirmação da negritude iniciado na década de 70 no Ocidente, e avalia como muito importante o aumento da auto-estima gerado pela valorização da cultura negra.
A população de autodeclarados pretos e pardos chegou a 49,7% em 2007, ante 49,4% de brancos. Em relação a 2006, houve redução de 0,3 ponto porcentual entre os que se declararam brancos. Já os pretos aumentaram sua participação em 0,5 ponto porcentual (de 6,9% para 7,4%), e a dos pardos passou de 42,6% para 42,3%. Somando-se pretos e pardos, houve aumento de 0,2 ponto porcentual.
Fundador da rede de pré-vestibulares Educafro, o frei David Santos comemorou o resultado. Para ele, a discussão sobre cotas mudou a percepção que muitas pessoas negras tinham sobre sua cor. "Antes, ser negro era algo depreciativo, as pessoas tinham vergonha, e grande parte ainda tem", disse. Hoje com 56 anos, ele conta que, no seu caso, a "ficha só caiu" depois de ter sido vítima de racismo. "Só me assumi como negro com 22 anos. Antes, tinha plena consciência de que era branco queimado de praia." Para David, com a criação de cotas, "pela primeira vez os negros passaram a ter benefícios". "Não tenho dúvida de que o Brasil sempre teve população majoritariamente preta e parda, que não se assumia." Ele afirma que o resultado servirá para "exigir mais políticas públicas com cortes étnicos".
A mudança ocorre no momento em que o IBGE estuda a possibilidade de mudar o atual sistema de classificação de cor. Manolo lembra que outras tentativas, na década de 90, não deram certo.
Fonte:http://www.lpp-uerj.net/olped/acoesafirmativas/exibir_noticias.asp?codnoticias=28911
"Pode ter outros fatores, mas é óbvio que essas políticas têm levado a um aumento das declarações de negros, sejam elas fictícias ou não." Ele também cita o acesso à terra por declarados remanescentes de quilombos. Para Manolo, a cor, no Brasil, continua sendo questão de posição social. "Não sei se isso é bom ou ruim, pois as identidades têm grande parcela de ficção, estão voltadas para uma demanda de inclusão social", diz. "Antes, sempre ocorreu tendência de embranquecimento. Muitas pessoas estão buscando um meio de ascender socialmente." Mas o professor também aponta como fator o movimento de afirmação da negritude iniciado na década de 70 no Ocidente, e avalia como muito importante o aumento da auto-estima gerado pela valorização da cultura negra.
A população de autodeclarados pretos e pardos chegou a 49,7% em 2007, ante 49,4% de brancos. Em relação a 2006, houve redução de 0,3 ponto porcentual entre os que se declararam brancos. Já os pretos aumentaram sua participação em 0,5 ponto porcentual (de 6,9% para 7,4%), e a dos pardos passou de 42,6% para 42,3%. Somando-se pretos e pardos, houve aumento de 0,2 ponto porcentual.
Fundador da rede de pré-vestibulares Educafro, o frei David Santos comemorou o resultado. Para ele, a discussão sobre cotas mudou a percepção que muitas pessoas negras tinham sobre sua cor. "Antes, ser negro era algo depreciativo, as pessoas tinham vergonha, e grande parte ainda tem", disse. Hoje com 56 anos, ele conta que, no seu caso, a "ficha só caiu" depois de ter sido vítima de racismo. "Só me assumi como negro com 22 anos. Antes, tinha plena consciência de que era branco queimado de praia." Para David, com a criação de cotas, "pela primeira vez os negros passaram a ter benefícios". "Não tenho dúvida de que o Brasil sempre teve população majoritariamente preta e parda, que não se assumia." Ele afirma que o resultado servirá para "exigir mais políticas públicas com cortes étnicos".
A mudança ocorre no momento em que o IBGE estuda a possibilidade de mudar o atual sistema de classificação de cor. Manolo lembra que outras tentativas, na década de 90, não deram certo.
Fonte:http://www.lpp-uerj.net/olped/acoesafirmativas/exibir_noticias.asp?codnoticias=28911
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